"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Direitos Humanos e Anistia Internacional

“Corria o ano de 1961. Um jornal londrino publicou, sob o título ‘Os prisioneiros esquecidos’, o chamamento feito por um advogado britânico ― Peter Benenson ― de pessoas de diferentes origens e crenças para um trabalho pacífico e imparcial pela libertação de milhares de homens e mulheres presos em todo o mundo, apenas por causa de suas convicções ou por suas origens. Esses presos viriam posteriormente a ser chamados ‘prisioneiros de consciência’, um novo termo que se incorporaria às questões mundiais.
A fúria de Benenson se justificava. Pouco antes ele tomara conhecimento de que dois estudantes haviam sido presos num restaurante de Lisboa e condenados pelo regime de Salazar a sete anos de prisão... por terem feito um brinde à liberdade! Seu primeiro impulso foi apresentar um protesto solene à embaixada portuguesa. Mas logo desistiu, ciente de que manifestações isoladas receberiam apenas o escárnio dos tiranos. Uma ação assim teria de ser maciça para ser eficaz. Era preciso mobilizar as pessoas. Era preciso direcionar a indignação dispersa.
Em um mês, mais de mil pessoas já haviam respondido ao apelo oferecendo ajuda prática. Traduções do artigo foram publicadas na imprensa de outros países. Em seis meses, Benenson anunciava que aquele chamamento sumário estava sendo convertido em um movimento internacional permanente, e afirmava ‘Acreditamos que estes seis primeiros meses mostraram que em um mundo crescentemente cínico existe uma grande reserva latente de idealismo a ser impulsionada’.
Nascia a Anistia Internacional ou Amnesty International, como é conhecida no país de origem.
Sean Mac Bride, veterano militante da causa dos direitos humanos, ganhador do Nobel da Paz e morto em janeiro de 1988, foi um dos fundadores da AI e recorda em suas memórias que os outros membros da Anistia Internacional já acreditavam que a melhor maneira de se conhecer uma dada sociedade era verificar quem estava em suas prisões.
Os novos membros organizaram-se em grupos. Um trabalho prático para enfrentar a perseguição política que se iniciou. Sindicalistas eram presos na Espanha, dissidentes padeciam longas penas na Alemanha Oriental, detidos na África do Sul eram submetidos à brutalidade e maus-tratos, nos Estados Unidos perseguiam-se ativistas dos direitos civis, na União Soviética faziam julgamentos políticos. E contra o silêncio oficial dos governos desencadeou-se uma batalha permanente, independentemente da ideologia ou da atitude das autoridades que violavam alguns direitos humanos. Contatavam-se advogados e familiares dos prisioneiros. Cartas e telegramas eram enviados aos governantes e multiplicavam-se as denúncias.
Apesar da improvisação e da modéstia de seus recursos ― o orçamento de 1962 compreendia parcas 7000 libras esterlinas ―, o movimento tornava-se conhecido. Passou a incomodar governos e, óbvio, a reação não tardou. O Izvestia, jornal soviético, falou de sabotadores ideológicos’. E o Departamento de Estado, nos EUA, já no final de 1961, disse ter provas de que a AI era ‘um complô vermelho’.
Outros, porém, viriam a chama-la ‘uma conspiração de esperança’.”
                                                                       
IODETA, Carlos Alberto. Direitos Humanos e Anistia Internacional.
In: FESTER, Antonio Carlos Ribeiro. Direitos Humanos e... São Paulo:

Brasiliense / Comissão Justiça e Paz de São Paulo, 1989. P. 59-61.



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