"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

domingo, 15 de março de 2009

Mar Portuguez

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
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Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
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Mar Portuguez, do poeta português Fernando Pessoa. Um poema de inestimável beleza que nos remete para os acontecimentos históricos pelos quais passou a nação lusitana, assemelhando-se aos escritos de Camões em Os Lusíadas, este vai além e descreve um Portugal bem mais contemporâneo, descrevendo inclusive alguns fatos ocorridos no início do século passado. Canta com nobreza os feitos do povo português e exalta a grandeza da alma dos navegadores que cruzavam os mares em busca de glórias e riquesas. Claro que o vocábulo português não é escrito com guez. Já foi. Mas deixou de ser, mudou numa das tantas mudanças ortográficas da língua. Os versos acima fazem parte do poema Mensagem, que canta a "possessio maris". Todas as reedições das obras de Fernando Pessoa mantêm determinadas expressões de Mensagem à antiga, como esta, o Mar Portuguez, assim mesmo, de antigamente, Occidente e Oriente. Aproveite e (re)leia Mensagem, na íntegra. Leia também o magnífico ensaio da Nelly Novaes Coelho.
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PESSOA, Fernando. Obra Completa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1985

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